terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ad Eternum...

Quantas vezes já usaram a palavra "Eterno", "Eternamente" ou "Eternidade"?
E quantas vezes já as utilizaram sabendo, realmente, ao que se estavam a referir?
Pois é... a resposta será, se escutarmos a nossa alma: raramente...
Se consultarmos o vulgo dicionário, podemos ler:

Eternidade é um conceito filosófico que se refere, no sentido comum, ao tempo infinito; ou ainda algo que não pode ser medido pelo tempo, porquanto transcende o tempo. Se entendermos o tempo como duração com alterações, sucessão de momentos, a Eternidade é uma duração sem alterações ou sucessões.

Eterno (remete para eternidade) e eu acrescento: "Não há factos eternos, como não há verdades absolutas." Friedrich Nietzsche

É curiosa a forma como debitamos palavras sem conhecermos o seu verdadeiro significado. Alguns pensarão: são meras palavras... Mas as palavras carregam consigo um peso e para muitos, eu inclusive, que não gosto de dizer palavras ao desbarato, tenho o costume de medir as que digo e as que recebo! As palavras marcam… e também nos marca a falta delas.
Hoje decidi indagar este e outros conceitos que me atormentam... de volta à teoria do caos… a minha memória volta a Friedrich Nietzsche, que me tem acompanhado nos bons e nos maus momentos...

Eterno retorno é um conceito filosófico formulado por Nietzsche. Em alemão o termo é Ewige Wiederkunft. Uma síntese dessa teoria é encontrada em A Gaia Ciência:

"E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demónio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

O Eterno Retorno é um conceito não acabado em vida pelo próprio Nietzsche, mas que encontramos trabalhado em vários dos seus textos (No "Assim falou Zaratustra"; aforismo 341 do "A Gaia Ciência"; aforismo 56 do "Além do bem e do mal") e em pequenas passagens dos fragmentos póstumos. Nietzsche considerava-o como o seu pensamento mais profundo e amedrontador, que lhe veio à mente durante uma caminhada, ao contemplar uma formação rochosa.

Um dos aspectos do Eterno Retorno diz respeito aos ciclos repetitivos da vida: estamos sempre presos a um número limitado de factos, factos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente, e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, até a mais recente e assustadora H1N1… O Eterno Retorno não é visto como uma forma de percepção do tempo, nem é considerado um ciclo temporal que se repete indefinidamente ao longo da eternidade. Para Nietzsche a noção do tempo não é cíclica, embora nos pareça um paradoxo.

O Eterno Retorno coloca em questão a ordem das coisas. Mostra-nos um mundo que não é composto por compartimentos estanques e incompatíveis, olha para a realidade como se de uma moeda de duas faces se tratasse. Uma dualidade que é UNA, estamos obviamente a falar da realidade. Assim sendo, bem e mal, amor e ódio, tristeza e alegria são forças complementares da realidade - forças que se alternam eternamente.. As coisas sucedem-se umas após as outras infindavelmente… Fortuna ou maldição?
Isto leva-nos a pensar na vida e no modo como a vivemos… Será que estamos mesmos dispostos a viver infinitas vezes o mesmo percurso? Quando se chora, quando se ri sempre pelos mesmos motivos e com a mesma intensidade?
É necessário, pois, que exista uma entrega total em tudo o que fazemos, em tudo o que vivemos e dizemos, em tudo o que damos e recebemos, porquanto tudo isso voltará, um dia, para o vivermos uma e outra vez… ad eternum

Colocando de lado estas questões existenciais e olhando para a temática de uma forma mais leve, ainda no outro dia encontrei um texto mais ligeirinho que resume, numa dúzia de palavras o conceito de Eterno... o texto continua, porém, com uma divagação acerca do que é fácil e difícil no nosso dia a dia, nas nossas vivências... vamos pensar nisto e segundo o Eterno Retorno, pensem em tudo aquilo que fazem e se gostariam de ter de passar por tudo outra vez! Reflictam naquilo que fazem os outros passar e naquilo que os fazem sentir... Em como com um gesto, ou pela falta dele, mudam o rumo dos acontecimentos...

"Eterno, é tudo aquilo que dura uma fracção de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!
Fácil é ouvir a música que toca,
Difícil é ouvir a tua consciência, acenando o tempo todo, mostrando as nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é segui-las. Ter a noção exacta da nossa própria vida, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar a resposta, ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como és e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na lista telefónica de alguém.
Difícil é ocupar o coração de alguém e saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir ao nosso próprio coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer “Olá” ou “Como estás?”.
Difícil é dizer “Adeus”, principalmente quando somos culpados pela partida de alguém das nossas vidas…
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida, aquela que toma conta do nosso corpo, como uma corrente eléctrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois… Amar e se entregar, e a aprender a dar valor somente a quem te ama.
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem a tua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá…
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e reflectir sobre os teus erros ou tentar fazer diferente algo que já se fez de muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele(a) deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que se diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre essa situação.
Difícil é viver essa situação e saber o que fazer. Ou ter coragem para o fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E assim perdemos pessoas especiais!"

(Autor desconhecido)

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