terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Dia D do Coração (parte I)


Comecei a ler um livro que vai servir de base, ou de inspiração para este texto... Não que com isso tencione plagiar o livro, mas a cada página que eu lia, estava a ler uma das minhas histórias de vida... porque afinal não somos os únicos a viver determinados momentos...("devorei-o" em dois fins de tarde) Sim, digo uma, porque a nossa vida não é senão um conjunto de histórias, de momentos... E este retrata um daqueles momentos que se vive com tanta intensidade, mas que depois morre em nós! Há uma frase muito interessante, cujo autor já não me recordo, mas também não creio que ele venha ler o meu blogue, que diz: "A característica especial do Amor é arder até às cinzas e extinguir-se por completo... Então, as cinzas são sopradas pelo vento e nada mais resta..."

Voltemos ao livro. Este livro contém uma dedicatória que diz: "Para todas as mulheres que viveram um grande Amor. A todos os homens que o perderam."

Algures nas suas páginas encontrei este poema de António Franco Alexandre:

Na lista dos teus fins, venho no fim
de uma página nunca publicada,
e é justo que assim seja, embora saiba
mexer palavras, e doer de frente,
e tenha esse talento conhecido
de acordar de manhã,
dormir à noite,
e ser, o dia todo, como gente,
nunca curei, como previa, a lepra
nem decifrei o delicado enigma
da letra morta que nos antecede.
Por muito te querer, talvez pudesses
dar-me um lugar qualquer mais adiante,
despir-te de pudor por um instante
e deixá-lo cobrir-me como um manto.


Que feio, não é? Gostar de alguém faz-nos parecer idiotas... faz-nos depositar o nosso coração nas mão de um outro alguém, que não conhecemos de parte nenhuma, mas que intuímos que seja a nossa "tábua de salvação" e ainda dizemos, de braços esticados em direcção a essa pessoa: "Toma, está aqui o meu coração, despedaça-o quantas vezes quiseres, e eu vou continuar a amar-te mesmo em cada pedaço!" Que triste... Mas é a realidade, é o que fazemos uma e outra vez, até já nada restar, até ficarmos tão descrentes que nos refugiamos no nosso casulo à espera da metamorfose e só a partir desse momento, poderemos, de novo, voar... Por vezes, isto é apenas um sonho... e os sonhos nem sempre se realizam, como diz José Eduardo Agualusa, em As Mulheres do Meu Pai:

"- E aquilo o que é?

-Um sonho. Um sonho mecânico. Deixei-o aí para me lembrar que também aos sonhos os devora a ferrugem. A ferrugem nunca dorme."


Este texto será, para mim, uma espécie de catarse, não do tipo: "As palavras que nunca te direi", mas As Palavras Que Nunca Te Disse, e espero com ele fechar um capítulo da minha história, um momento vivido por mim, sim, leram bem, por mim, porque a outra parte nunca o viveu!

Não quero que se torne num grito de revolta ou num lamento, muito menos em orgulho ferido, quero que valha apenas por aquilo que é... limpar o meu sistema, para que fique livre para o que a vida me quiser oferecer!

Todos estes pensamentos têm vivido reféns dentro da minha cabeça, e eu sempre disse que detesto que as palavras gritem dentro de mim, sem que eu as consiga deitar cá para fora, e hoje é o momento de libertá-las, é o momento certo, já não preciso esconder nem guardar nada. Não têm um destinatário especial, ou se calhar até têm... para isso, basta que alguém, neste mundo imenso, se identifique com aquilo que aqui vai ser escrito.

Ultimamente tenho como frase no meu Messenger: Aprendi que: o tempo cura, a mágoa passa, a decepção não mata, que a dor fortalece... e que o segredo da vida é... VIVER!

O tempo ajuda sempre, e quanto mais nos distanciamos dos acontecimentos, mais os conseguimos ver com a clareza devida.

Neste momento encontro-me em paz, já nada do que sinto passa pelos outros, embora em muitos pequenos nadas sinta ainda que sou tragicamente igual a alguém, que o tempo e a distância afastaram de mim, por parecermos tão carentes que precisamos de encontrar uma colete de salvação afectivo que nos impeça de naufragar.

Hoje sei que isso nem sempre passa pela concretização de uma relação amorosa, temos a família, os amigos, os colegas...

Claro que a intimidade é outra coisa, e a nossa assustou-te tanto que ainda hoje foges dela!

Vou voltar atrás para falar das famílias, naquele texto, que ainda hoje guardo ao meu lado na secretária, diz que temos mais dos nossos pais do que aquilo que supomos... essa é uma das minhas trágicas verdades, e esse entendimento começou, desde muito cedo, a ter efeitos nefastos em mim... só recentemente me apercebi que o amor não se coaduna com a dependência, embora reconheça que a maior parte das pessoas vive e sente o amor assim. É quase certo que esta minha propensão quimérica para amores impossíveis, tenha tido o seu berço nesse ambiente familiar conturbado. "Não há culpa nem mérito em tudo o que o destino decide por nós, muito menos quando somos ainda umas crianças e o inesperado nos atinge na maior fragilidade e esmaga os nossos virgens espíritos." Foram precisas muitas sessões de psicoterapia para que eu me consciencializasse disso. Tu não, tu viveste uma infância de ouro, da qual, infelizmente, poucas crianças usufruem, sempre recebeste muito amor, carinho e atenção. Tenho pena que esses sentimentos se tenham esgotado ou tenham sido assimilados pelo teu carácter permeável e fraco, tornando-se em defeitos muito menos interessantes...

Ao passar por esta e outras agruras da vida, dizem-me que uma das lições que o Universo tenta a todo o custo me ensinar é o desapego... sempre que a minha vida sofre uma instabilidade, dizem-me que tenho de aprender a deixar partir, mas os afectos estão intimamente ligados ao apego, nada é livre e leve como gostaríamos de acreditar, no entanto, acabamos todos por nos tornarmos prisioneiros desses afectos, logo o desapego é algo que temos de aprender a "ferro e fogo", e dói... como dói!

"Amar sem reciprocidade é uma doença silenciosa e traiçoeira como o cancro; quando damos por isso, o mal causado já se espalhou de tal forma que não é possível escapar.

Eu escapei. Escapei ao fim de vinte longos anos de calvário auto-infligido, e é também por isso que te escrevo, porque tu foste a minha última miragem, o derradeiro de todos os cavaleiros andantes, porventura o mais belo, construído pela minha paixão obstinada em perseguir um ideal, e seguramente o mais fraco quando, por fim, te consegui ver sem ser em cima do cavalo.

Depois da forma ignóbil e cobarde como te comportaste da última vez em que estivemos juntos, encenando a tua atitude com falta de tacto e tentando desculpá-la com o recurso à "sinceridade", nunca mais poderás ascender ao pedestal da tua suposta dignidade.

Restava-te apenas aquilo que fizeste: sair pelo teu pé, ligeiramente cambaleante, de olhos postos no chão e sem olhar para trás." MRP. Desculpem a citação, mas eu não o saberia dizer melhor!

Sentiste que tinhas de andar para a frente, ainda que depois não o fizesses... estes comportamentos revelam uma índole insegura e profundamente egoísta! "Nunca sabes o que queres e vives tão perdido nas tuas dúvidas que nem sequer consegues perceber o mal que podes infligir aos outros." Idem.

Estou convencida de que tu sabias do sofrimento que me causavas... Importa dizer que não tenho por ti nenhum sentimento de raiva, de tristeza, na verdade acho que até nem guardo por ti nenhum sentimento... "Só nos apercebemos de que vivemos num labirinto quando se nos deparam labirintos ainda maiores. E o teu, meu querido e confuso amor, é dos mais vastos e complexos que já visitei." Idem.

A cada dia que passa, penso em ti e em nós cada vez menos. Evidente que ainda me recordo de alguns momentos, mas aos poucos vou abrindo mãos dessas memórias e deixo-me ir, sem rumo...

Depois de te ter visto partir, chorei muito... "Em vez de ir melhorando, a tristeza e a desolação iam ganhando mais terreno; os dias pareciam-me imensos, acordava cedo e só pensava onde iria arranjar forças para enfrentar as horas de luz até o Sol se pôr.

As noites ainda eram piores, arrastando-se em sequências de longas horas vazias e sufocantes, opressivas e infinitas. Ainda não descobrira o efeito milagroso dos indutores de sono, mas tenho a certeza de que teriam sido muito úteis" nessa altura, como o são agora. Foi um momento de luto que agora chega ao fim! Já há muito tempo que não choro por ti, mas ainda recentemente chorei por mim, por ter sido tão estúpida, por me teres roubado o meu sonho. Foste a minha maior aposta e, contudo, a minha maior decepção. Mas aprendi a lição, e é disto que não me devo esquecer...

Bom, agora vou viver um momento feliz, como têm sido ultimamente todos os meus momentos ... depois continuo noutra altura

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